Wednesday, August 22, 2007

o Show de Truman

Numa sociedade mal-acabada como a nossa onde a importação de modelos de consistência chegam via aérea, marítima, Internet e tudo o mais que se possa utilizar, onde falar sobre temas nacionais não nos torna brasileiros, onde no levantamento desta sociedade em crise, o tema é o fracasso. E se todos se culpam mutuamente de maneira tácita ou implícita, se tentam eximir-se da responsabilidade atirando-a no governo, nos partidos políticos e na educação que tiveram. Eu me pergunto: Qual é a verdadeira imagem de um país ainda incerto de si mesmo?
Onde em cada estação de metrô as cores das propagandas saltam aos olhos e as proporções, por exemplo, de um caixa de sabão em pó "Assim-Tripla Ação" parece uma escultura a la "Os Bandeirantes". Qual é a cor local? Qual é o nosso gesto?
Me parece que os personagens de drama ou comédia que transitam noite e dia pela cidade, não sabem de antemão condenadas por pertencerem a um mundo caduco.
Parece não haver nada de moderno, apenas algo que pelo menos em vinte anos desbotou e encardiu.
Muitos de nós se sentem fazendo bricolagem, procurando sua matéria-prima entre os destroços de velhos sistemas. Embora hoje não acho que sejam destroços, mas um acúmulo de entulho tão gigante que só conseguimos enxergar fragmentos. Daí a idéia de bricolagem. E mais uma vez à medida que tentamos nos identificar de corpo e alma com o país, sinto crescer a suspeita antiga de que a acomodação entre nós da cultura norte americana não foi uma solução feliz.
Sinto que hoje o levantamento da realidade tem sido feita mais pela arte que pelas ciências do homem. Não estamos mais numa cegueira de carneirada, como disse Mário de Andrade, mesmo indo e vindo às vezes sem rumo já conseguimos ver feixes de luz que vazam de uma falsa realidade que tentam nos desenhar, mas como num cenário velho, que rasgado o pano já vemos o que há por trás.
Estamos como numa caçada acocorado e à espreita, ou olhando de banda e esgueirando-se cautelosamente entre os arbustos, enquanto com a mão livre pede-se cautela ao companheiro.Estamos indo apesar do medo de algo que já não é desconhecido, muito pelo contrário, é um medo de enfrentar o que está cada vez mais óbvio.
(Elaborado a partir de textos de Mário de Andrade e Gilda de Mello e Souza)

1 comment:

Anonymous said...

gente eu nao sabia que o Caetano Veloso lia e muito menos que ele escrevia aqui, soh tenho uma coisa pra dizer, achei chic